O que é estoicismo?

O estoicismo, uma filosofia que teve início na Grécia Antiga, continua atraindo uma multidão de seguidores nos dias de hoje. Busca-se nele um modo de vida que tem como meta a excelência moral.

Embora o estoicismo seja frequentemente retratado como rígido e implacável, seus fieis seguidores insistem que é um modo de vida libertador e alegre. Fundada por Zenão de Cítio (Atenas, 344–262 a.C.), essa filosofia ainda conta com muitos adeptos nos dias de hoje.

Os estoicos da Grécia antiga se consideravam herdeiros da filosofia moral socrática e da filosofia natural de Heráclito de Éfeso. O estoicismo teve um impacto significativo na história do pensamento, influenciando o desenvolvimento da moralidade, da teologia cristã e da filosofia moderna.

Como começou o estoicismo?

Por volta de 304 a.C, um comerciante chamado Zenão naufragou durante uma viagem comercial. Ele perdeu quase tudo. A caminho de Atenas, foi apresentado à filosofia pelo filósofo cínico Crates e pelo filósofo megariano Estilpo, o que mudou sua vida. Como Zenão brincou mais tarde: “Fiz uma viagem próspera quando sofri um naufrágio”. Mais tarde, ele se mudaria para o que ficou conhecido como Stoa Poikile, que significa literalmente “pórtico pintado”. Erguido no século V a.C. – as ruínas ainda são visíveis, cerca de 2.500 anos depois – o pórtico pintado é onde Zenão e seus discípulos se reuniam para discussão. Embora seus seguidores fossem originalmente chamados de zenonianos, é um crédito final para a humildade de Zenão que a escola filosófica que ele fundou, ao contrário de quase todas as escolas e religiões anteriores ou posteriores, não tenha levado seu nome.

Excelência Moral no Estoicismo

O principal legado dos estoicos reside em sua ética. Como a maioria das outras escolas de Filosofia Antiga, os estoicos acreditam que o objetivo da ética é a eudaimonia. Essa palavra grega não tem uma tradução direta para o português. Embora frequentemente seja traduzida como “felicidade”, a eudaimonia não se limita a um estado de espírito agradável; possui um significado muito mais profundo.

A eudaimonia pode ser melhor compreendida como “florescimento humano”. Uma vida é eudaimônica quando alcança seu potencial máximo de excelência e está em conformidade com a dignidade adequada a um ser humano.

A ética estoica se diferencia da ética aristotélica de forma significativa. A Filosofia Estoica sustenta que a virtude é suficiente para alcançar a eudaimonia. Em outras palavras, a virtude é tudo o que é necessário para isso. Aristóteles, por sua vez, acreditava que a virtude era necessária para a eudaimonia, mas não suficiente, ou seja, não era apenas suficiente por si só – ainda era necessário mais.

Visão de Aristóteles

Para Aristóteles, uma vida eudaimônica exigia, além da virtude, um pouco de boa sorte. Para viver bem, eram necessários bens essenciais como abrigo, boa saúde, amizade e sabedoria. Uma pessoa virtuosa poderia ser vítima de uma tragédia que a deixasse doente, desabrigada ou sozinha e, portanto, apesar de seu bom caráter, sua vida não teria sido bem-sucedida; ela não teria alcançado a eudaimonia.

Visão dos estoicos

Os estoicos discordam nesse ponto. Olhando para trás, para Sócrates e para a escola socrática do cinismo, o antigo estoicismo afirma que tudo o que é necessário para viver uma vida boa é ser virtuoso. Todos os outros chamados bens devem ser considerados com indiferença. Mesmo que o sábio virtuoso sofra múltiplas tragédias, ou mesmo suporte intensa tortura física, ainda tem uma chance de eudaimonia porque essas coisas externas não precisam corromper seu caráter virtuoso. Depois de se tornar virtuoso, nada pode arruinar sua vida. Na lógica estoica, a virtude é o limite da felicidade.

Os Estoicos e a Indiferença

A doutrina da indiferença é provavelmente responsável pela reputação do estoicismo como duro e impiedoso. Se apenas a virtude é considerada boa, isso implica que a saúde, o prazer e até mesmo o bem-estar dos nossos entes queridos devem ser tratados com indiferença. No entanto, a indiferença estoica em relação às coisas externas é mais complexa do que parece. Embora os antigos cínicos tenham influenciado a doutrina estoica da virtude – Zenão até estudou com Crates de Tebas, o cínico, antes de fundar sua própria escola – a doutrina estoica é distinta da doutrina cínica.

Os cínicos pensavam que apenas a virtude era boa e que os outros bens deveriam ser desprezados e evitados. A melhor vida era uma vida austera de pobreza. O estoicismo, por outro lado, diz que não devemos desprezar as coisas externas, mas considerá-las com indiferença. As exigências da virtude ainda exigem que cuidemos de nós mesmos e dos outros, e os estoicos acreditam que tais coisas podem ser dignas de escolha e não serem consideradas fins últimos.

A metáfora do arqueiro

Isto é melhor ilustrado pela metáfora do arqueiro: um bom arqueiro faz tudo o que pode para atingir o alvo. Mas uma vez que ele solta a corda do arco, não está mais em seu poder garantir que a flecha atinja o alvo. Uma rajada repentina de vento poderia desviar a flecha de seu curso ou algo poderia interceptá-la antes que ela atingisse o alvo. Se ser um bom arqueiro é definido pelo sucesso em acertar o alvo, então quem é bom ou mau fica ao acaso. Fatores externos sobre os quais o arqueiro não tem controle podem frustrar seu objetivo.

Os estoicos pensam que não se deve ser culpado por coisas que estão fora do seu controle. Portanto, embora um bom arqueiro mire no alvo, o alvo não é o seu objetivo. Não é acertar o alvo que faz de um arqueiro um bom arqueiro, mas apenas fazer tudo o que pode para ser um bom arqueiro. E isso significa que ele deve tentar o seu melhor para acertar o alvo, ao mesmo tempo que considera o acerto do alvo indiferente ao seu objetivo final. Os estoicos sugerem que devemos ter a mesma atitude em relação aos nossos objetivos na vida. Somente nossas próprias ações e atitudes estão ao nosso alcance. E se você considera as coisas externas que estão fora do seu controle como essenciais para a felicidade, você entrega a responsabilidade pela sua própria felicidade ao acaso.

O estoicismo e a ética cristã

É amplamente aceito que os estoicos tiveram uma influência decisiva no pensamento cristão histórico, particularmente na ética cristã. Mas a natureza dessa influência é contestada entre acadêmicos contemporâneos. Além disso, mesmo aqueles teólogos históricos e contemporâneos que se envolvem com os escritos estoicos reconhecem que certas posições estoicas, mais notavelmente a tendência dos estoicos ao fatalismo, sua rejeição radical das emoções, incluindo tristeza e raiva, e seu relato positivo do suicídio, são incompatíveis com o ensino cristão. Apesar dessas complexidades, os estoicos permanecem significativos tanto para a compreensão do desenvolvimento histórico do pensamento cristão quanto para a prática cristã contemporânea.

O grau em que os estoicos influenciaram vários autores cristãos é assunto de debate, mas está claro que muitas posições teológicas foram desenvolvidas em contextos nos quais os estoicos eram amplamente lidos, e que vários autores cristãos liam os estoicos diretamente. O apóstolo Paulo era de Tarso, um centro da filosofia estoica, e alguns estudiosos sugerem que o sermão de Paulo aos atenienses no Areópago (Atos 17) pode citar um hino a Zeus escrito pelo estoico Cleantes.

As interpretações cristãs do pensamento estoico têm sido variadas, frequentemente críticas e quase sempre contestadas. No entanto, a regularidade com que os teólogos cristãos se envolveram com o estoicismo aponta para a importância da tradição para a teologia cristã, seja na forma de influência estoica no cristianismo ou ideias cristãs definidas em oposição às do estoicismo.

Os Maiores Filósofos Estoicos de Todos os Tempos

O que seria o estoicismo sem os seus filósofos? Podemos nomear diversos filósofos que foram importantes para a criação, desenvolvimento e divulgação da filosofia estoica. Vamos explorar alguns dos grandes mestres do estoicismo, que moldaram esta filosofia e deixaram um legado duradouro para a humanidade:

Zenão de Cítio – O fundador

Zenão de Cítio foi um antigo filósofo nascido por volta de 334 a.C., originalmente de uma área conhecida como Cítio, na ilha de Chipre. Aos 34 anos, Zenão acabou por se encontrar no centro de Atenas debatendo filosofia e fundando uma das escolas filosóficas mais proeminentes da época, e uma das poucas que são praticadas até hoje, o estoicismo.

Busto de Zenão, fundador do estoicismo.
Busto de Zenão de Cìtio

Zenão tornou-se aluno de Crates de Tebas antes de estudar de forma mais ampla, incluindo a filosofia de Platão. Por volta do ano 301 a.C., Zenão começou a ensinar filosofia à sombra de uma colunata no centro de Atenas. A área era chamada de Stoa Poikile. Da palavra stoa nasceram os estoicos que conhecemos hoje.

Zenão morreu por volta do ano 262 a.C., um túmulo foi construído para elogiar a influência que ele teve na moralidade e na ética da juventude da época. Há também uma cratera na lua com o seu nome.

Veja mais detalhes sobre a vida de Zenão de Cítio em sua biografia.

Marco Aurélio – O Imperador

Marco Aurélio nasceu em 121 d.C. e seu reinado como imperador durou de 161 a 180 d.C.

Durante os últimos anos de sua vida, Aurélio começou a escrever um diário particular. Até onde sabemos, não estava sendo feito para ninguém ler ou publicar. No entanto, neste pequeno livro, Aurélio detalhou a sua filosofia pessoal, o seu próprio tipo de estoicismo que o ajudou a compreender quem ele era e que impacto queria causar no mundo.

Não era simplesmente um diário, era o trabalho de um homem que explorava as ideias da filosofia estica para tentar descobrir como viver uma vida melhor e compreender o seu lugar no mundo.

O diário foi publicado posteriormente e hoje é amplamente conhecida como Meditações de Marco Aurélio, uma das obras mais proeminentes da filosofia estoica que sobrevive até hoje. O livro em si está repleto de ensinamentos estoicos, conselhos sobre como lidar com as adversidades, ferramentas que podemos usar em nossos relacionamentos com os outros e com nós mesmos, e uma infinidade de outros pensamentos e ideias sobre como viver uma vida mais feliz e resiliente. 

Veja mais detalhes sobre a vida de Marco Aurélio em sua biografia.

Epicteto: O filosofo escravo

Epicteto, um dos mais renomados praticantes do estoicismo, nasceu em 55 d.C. na atual Turquia, onde, desde cedo, enfrentou a condição de aleijado e escravo de um influente estadista.

Mesmo sob essas circunstâncias adversas, teve a oportunidade de mergulhar nos ensinamentos da filosofia estoica. Após alcançar sua liberdade, dedicou-se ao ensino da filosofia. Contudo, em 93 d.C., o imperador Domiciano proibiu a disseminação da filosofia, levando Epicteto a deixar Roma e fundar uma academia em Nicópolis, na Grécia. Lá, adotou um estilo de vida despojado, livre de luxos materiais, concentrando-se no ensino e na prática do estoicismo.

Gravura de Epicteto, um dos mais renomados filósofos do estoicismo.

Apesar de um começo de vida desafiador, Epicteto personificou o espírito estoico. Ele instruiu seus discípulos a não se queixarem nem se preocuparem com eventos além de seu controle, sustentando que nada lhes poderia ser tirado que não pertencesse ao universo.

Epicteto procurou transmitir o estoicismo como uma filosofia aplicável à vida cotidiana, defendendo a visão de que os seres humanos possuíam um destino como criaturas dotadas de razão, um legado divino. Utilizando nossas faculdades racionais, era nossa responsabilidade honrar esse propósito por meio de uma vida virtuosa, em harmonia com nossa natureza.

Veja mais detalhes sobre a vida de Epicteto em sua biografia.

Sêneca – O Jovem

Sêneca, um dos filósofos estóicos mais renomados e debatidos, é reconhecido como um dos grandes escritores de Roma. Nascido na Espanha por volta de 4 a.C., mudou-se para Roma na juventude em busca de estudos filosóficos, sendo instruído pelo estóico Átalo. Ao longo do tempo, ascendeu gradualmente na sociedade romana, alcançando o cargo de escriba e, posteriormente, tornando-se senador.

A vida de Sêneca foi marcada por perseguições e contradições. Em 41 d.C., após acusações de adultério com a irmã do ex-imperador Calígula, Sêneca foi exilado para a Córsega pelo imperador Cláudio. Oito anos mais tarde, foi chamado de volta a Roma por Agripina, esposa de Cláudio, que desejava que ele se tornasse tutor de seu filho, Nero.

Nero, por sua vez, se tornou um dos imperadores mais infames de Roma, conhecido por sua crueldade. Apesar de seu compromisso filosófico com o estoicismo, Sêneca aconselhou um déspota e acumulou grande riqueza, o que é difícil de reconciliar com os valores estoicos. Em 65 d.C., Sêneca foi implicado em uma conspiração para depor e assassinar Nero.

Embora as acusações fossem sem dúvida falsas, o enfurecido e paranoico Nero ordenou que seu antigo mentor se matasse. Sêneca obedeceu, cortando os pulsos e tomando veneno. Ele controlou suas emoções e aceitou o que o destino lhe reservava.

Veja mais detalhes sobre a vida de Sêneca em sua biografia.

Quais são os melhores livros do estoicismo?

O estoicismo oferece uma sabedoria atemporal para lidar com os desafios da vida. Seus ensinamentos sobre a virtude, a aceitação do que não podemos controlar e o desenvolvimento da resiliência continuam a inspirar milhões de pessoas em todo o mundo.

Os melhores livros sobre o estoicismo, podem ser vistos como guias contemporâneos para aplicar esses princípios filosóficos na vida cotidiana. Essas obras podem nos oferecer insights profundos e práticos para cultivar uma mentalidade resiliente e uma vida plena.

Aqui falamos sobre os 5 melhores livros clássicos do estoicismo para iniciantes.

Neste post trazemos os 5 melhores livros modernos do estoicismo para iniciantes.

Melhores frases do estoicismo (em continua expansão)

Zenão de Cítio

“Melhor tropeçar com os pés do que com a língua”

“O amigo é um segundo eu”

“Todos nós podemos errar, mas a perseverança no erro é que é loucura”

Epicteto

“Para alcançar a liberdade só há um caminho: o desprezo das coisas que não dependem de nós”

“Nenhum homem é livre se não for senhor de si mesmo”

“Quanto tempo você vai esperar antes de exigir o melhor de si 

mesmo?”

“Não busque a felicidade fora, mas sim dentro de você, caso contrário nunca a encontrará”

Marco Aurélio

“Tudo o que ouvimos é uma opinião, não um fato. Tudo o que vemos é uma perspectiva, não a verdade”

A maior vingança contra um inimigo é ser diferente dele”

“A nossa vida é o que nossos pensamentos fazem dela”

“O que fazemos agora ecoa na eternidade”

Sêneca

“Não é da morte que temos medo, mas de pensar nela”

“É parte da cura o desejo de ser curado”

“É preciso dizer a verdade apenas a quem está disposto a ouvi-la”

“Sorte é o que acontece quando a preparação encontra a oportunidade”

“O Homem que sofre antes de ser necessário, sofre mais do que o necessário”

Sugestão de leitura

O Estoicismo – George Stock

Os estoicos foram os primeiros a reconhecer plenamente o valor do ser humano enquanto ser humano.

Em uma abordagem acessível ao público em geral e de grande proveito para estudiosos de filosofia, George Stock, ilustre Professor de Oxford, nos oferece uma exposição do estoicismo que cobre didaticamente, com clareza e competência, todos os diversos aspectos de sua filosofia.

Com o intuito de apresentar um esboço da doutrina estoica baseado nas autoridades originais, esta expressiva e rigorosa obra reconhece e faz justiça ao importante legado deixado pela escola estoica.